quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Solidão e Amor

SOLIDÃO  E  AMOR


     Certo amigo

     Buscou a solidão, no pressuposto

     De consagrar-se ao Mestre inteiramente...






SOLIDÃO  E  AMOR



     Certo amigo
     Buscou a solidão, no pressuposto
     De consagrar-se ao Mestre inteiramente...

     A concentrar-se nisto,
     Dizia achar, na Terra, um campo irreverente,
     Que o situava sempre em extremo desgosto;
     Considerava a multidão
     Por massa preguiçosa em movimento vão,
     Queria meditar sozinho e atento
     Sem barulhos quaisquer, sem qualquer elemento
     Que lhe pudesse em risco a paz que planejara.

     Ei-lo, assim, na paisagem doce e rara
     Que ele mesmo formara, dia-a-dia:
     A choça acolhedora, em perene harmonia,
     A plantação florindo
     O chão tratado e lindo.
     E as águas marulhosas
     Da fonte que nutria os gerânios e as rosas...
     Tudo ali era a paz da vida pura e mansa...
 
     E ele, o aspirante à luz
     Do contato supremo com Jesus,
     Parecia, na essência, uma criança
    Que pensava no Céu, de momento a momento,
    Sem qualquer sofrimento
    Que lhe pudesse vir
    Das forças antagônicas do mundo;
    E, solitário, em êxtase profundo,
    Aguardava o porvir.
    De quando em quando,
    Fosse regando as palavras prediletas
    Ou simplesmente contemplando,
    Na mística alegria dos ascetas,
    A luz do entardecer,
    Dizia em prece calma;
     - "Agradeço, Senhor, a santa solidão",
    Na qual te posso dar toda a minha alma,
    Todo o meu coração!...
    Graças a Ti Jesus; já não mais compartilho
    Das discussões hostis com que o mundo te nega,
    Sei que te espero em paz sem qualquer empecilho
    Da Humanidade, às vezes, triste e cega...
    Louvado sejas, meu Senhor,
    Por me haveres doado,
    Este sítio feliz, onde vivo isolado,
    Para aguarda-te a vinda, em meu imenso amor!...
    Meses correram, velozmente,
    E o discípulo a sós, piedoso e crente,
    Louvava a solidão e os Céus, todos os dias,
    Esperando o Messias ".

    Numa noite, porém, friorenta e escura,
    Quando fitava os astros
    A penderem da Altura,
    Viu que uma luz de longe,
    A esgueirar-se de rastros,
    Vinha ao encontro dele e, de repente,
     Eis que a luz a crescer, inopinadamente,
    Torna a forma de um homem que ele fita
    Com ternura infinita...
    Ajoelha-se e chora de emoção,
    Reconhecendo o Mestre Nazareno,
    A pousar nele o olhar belo e sereno,
    Renovando-lhe a paz no coração...

    Mostrando-se em viagem,
    O Cristo lhe sorri como que de passagem,
    Mas sem se interromper, prossegue, além...

    Levanta-se o aprendiz e corre-lhe no encalço,
    Depois, grita, feliz:
    - "Encontrar-te, Senhor, é tudo quanto eu quis...
    Fica, porém comigo alguns instantes,
    São tuas as flores repousantes,
    Abençoa estes sítios em que penso
     No teu amor imenso,
     Este lugar é teu!..."

    Jesus, deteve-se um momento
    E, após abençoá-lo, esclareceu:
    - "Agradeço-te, irmão",
    Tudo quanto me dás ao coração,
    As preces de louvor
    Que me endereças, cada dia,
    E o perfume de paz e alegria
    Que me ofertas
    Em teu jardim de amor
    Nestas plagas desertas...
    Desejo-te ao remanso,
    Refazimento á fé, reconforto ao descanso:
    No entanto, para mim,
    Enquanto houver na Terra algum sinal de pranto,
    Não posso demorar-me em teu jardim.
    O trabalho do amor é meu clima e meu lar,
    Ignoro se escutas
    A alma da Humanidade em pavorosas lutas.
    Ouço os gritos de dor dos corações caídos,
    As petições amargas, os gemidos
    De mães desesperadas,
    Os apelos dos grandes infelizes,
    Peregrinos de todas as estradas
    Entre aflições e crises;
    O choro das crianças sem ninguém,
    Os doentes largados ao vazio
    De espírito cansado e coração sombrio,
    Ante as visões do Além,
    A tristeza e a revolta dos ateus,
    Irmãos infortunados
    Que se afastam de Deus...
    Tenho comigo a paz do Reino Excelso,
    Mas de todos os lados
    Ouço o imenso clamor
    Dos que rogam aos Céus
    Consolação e fé, auxílio, luz e amor...
    Amo a todos, porém,
    Devo permanecer com quem se aflige e chora
    À distância do bem!..."

    Dito isso, o Senhor põs-se em caminho
    Mas o devoto, em novo pensamento,
    Deixou a solidão em que vivia
    Tão deslumbrado quanto desatento.
    E, de novo, entre as grandes multidões
    Erguia e consolava corações,
    Às vezes, insultado, injuriado e aflito
    Mas procurando em todos
  A presença do amor soberano e infinito;
   Varando lodo e sombra, muito embora,
    Seguia com Jesus, hora por hora,
    Construindo o porvir...
    E, elegendo no amor, a vida, o sonho e o lar,
    Começou a esquecer-se e passou a servir,
    Sem nada perguntar,
    Sem nada mais pedir.
 

Maria Dolores


 Livro: Somente Amor – Psicografia: Francisco C. Xavier – Espíritos: Maria Dolores e Meimei.

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