sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O PONTO DE VISTA

O PONTO DE VISTA

5. A idéia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no
futuro, e essa fé tem conseqüências imensas sobre a moralização dos ...





O PONTO DE VISTA


5. A ideia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no futuro, e essa fé tem consequências imensas sobre a moralização dos homens, visto que ela muda completamente o ponto de vista sob o qual eles encaram a vida terrestre. Para aquele que, pelo pensamento, se coloca na vida espiritual, que é indefinida, a vida corporal não é mais que uma passagem, uma curta estada em um país ingrato. As vicissitudes e as atribulações da vida não são mais que incidentes que ele recebe com paciência, porque sabe que são de curta duração e devem ser seguidos por um estado mais feliz; a morte nada tem de assustador; não é mais a porta para o nada, mas a porta da liberdade que abre para o desterrado a entrada de uma morada de felicidade e de paz.

  Sabendo que está em lugar temporário e não definitivo, ele aceita as inquietações da vida com mais indiferença, e disso resulta, para ele, uma calma de espírito que lhe suaviza a amargura.

  Pela simples dúvida que possua sobre a vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrena. Incerto quanto ao futuro, consagra-se ao presente; não entrevendo bens mais preciosos que os da Terra, ele é como a criança que não vê nada além dos seus brinquedos, e para obter esses bens o homem faz de tudo; a perda do menor desses bens é um desgosto profundo; um descontentamento, uma esperança perdida, uma ambição não satisfeita, uma injustiça da qual ele é vítima. A vaidade ou o orgulho ferido são, da mesma forma, tormentos que fazem da sua vida uma angústia sem fim e assim, voluntariamente, ele se entrega a uma verdadeira tortura de todos os instantes.

  Tomando o seu ponto de vista a partir da vida terrena, no centro da qual ele está colocado, tudo ao seu redor toma vastas proporções. O mal que o atinge, assim como o bem dirigido aos outros, tudo adquire, aos seus olhos, uma grande importância. O mesmo ocorre àquele que está dentro de uma cidade, tudo lhe parece grande: os homens que estão em altas posições, assim como os monumentos; porém, tão logo ele alcance o alto de uma montanha, homens e coisas vão lhe parecer bem pequenos.

  Assim acontece com aquele que encara a vida terrestre do ponto de vista da vida futura; a humanidade, como as estrelas do firmamento, se perde na imensidão; ele percebe então que grandes e pequenos são confundidos como as formigas sobre um monte de terra; que proletários e soberanos têm o mesmo valor, e lamenta essas criaturas efêmeras que tanto se empenham em conseguir, na vida terrena, um lugar que as eleva tão pouco e que devem conservar por tão pouco tempo. Vemos então que a importância que se dá aos bens terrenos está sempre na razão inversa da fé na vida futura.

6. Se todas as pessoas pensassem da mesma forma, com ninguém se ocupando mais das coisas da Terra, pode-se dizer que tudo nela iria correr perigo. No entanto, não é assim; o homem busca instintivamente o seu bem-estar, e, mesmo com a certeza de ficar pouco tempo em um lugar, ele ainda quer ali permanecer o melhor ou o menos mal possível; não existe uma só pessoa que, encontrando um espinho sob sua mão, não o retire para não se picar.

  Ora, a procura do bem-estar força o homem a melhorar todas as coisas, ele é impulsionado pelo instinto do progresso e da conservação, que está nas leis da Natureza. Ele trabalha, portanto, por necessidade, por gosto e por dever, e, cumprindo os desígnios da Providência que o colocou sobre a Terra para esse fim. Somente aquele que considera o futuro, dedica ao presente uma importância apenas relativa e se consola facilmente dos seus infortúnios, pensando no destino que o aguarda.

  Deus, portanto, não condena as satisfações terrenas, mas o abuso dessas satisfações em prejuízo das coisas da alma; é contra esse abuso que se previnem os que aplicam a si mesmos estas palavras de Jesus: “Meu reino não é deste mundo.”

  Aquele que se identifica com a vida futura é semelhante a um homem rico que perde uma pequena soma sem se comover; o que concentra seus pensamentos na vida terrestre é como um homem pobre que perde tudo o que possui e se desespera.

7. O Espiritismo amplia o pensamento e lhe abre novos horizontes, em lugar dessa visão estreita e mesquinha que o concentra na vida presente, que faz do instante que se passa sobre a Terra a única e frágil base do futuro eterno, o Espiritismo mostra que essa vida é apenas um elo no conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador; ele mostra os vínculos que unem todas as existências do mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Ele dá, assim, uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto que a doutrina da criação da alma no momento do nascimento de cada corpo torna todos os seres estranhos uns aos outros. Essa solidariedade das partes de um mesmo todo explica o que é inexplicável, se apenas considerarmos uma única parte. É essa visão de conjunto que os homens não teriam compreendido no tempo de Cristo, por essa razão o seu conhecimento foi reservado para outros tempos.






O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Cap II - Meu Reino não é desse mundo, Allan Kardec

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